Palavras com Sabor

domingo, 16 de junho de 2013

Mais um dia de tristeza do pescador

Como era costume, o pescador foi à praia, à procura da sereia, mas aquele lugar encontrava-se inundado de tristeza. O sol brilhante que lhe batia na cara já não lhe fazia sentido, porque fazia refletir cada gota de tristeza que lhe escorria pela cara, e as lágrimas eram tantas que a areia ficava molhada. O mar, para ele, já não valia nada sem a sereia. O mar ficava cinzento no seu coração, já não trazia aquela espuma misteriosa que ele pensava vir do horizonte. Tudo o fazia lembrar-se da belíssima sereia do seu coração. Tudo o que compunha aquele cenário magnífico, o mar, as algas verdes que em tempos foram macias, o glu-glu dos peixes laranjas, o farol tão divertido, com as suas luzinhas reluzentes, tudo entristecia com tanta amargura. As rochas, que deixaram de ser cinzentas e passaram a ser brancas, brancas como a cor das lágrimas pintadas, o cheiro salgado a maresia, as explosões das ondas ao baterem nas rochas da praia, a brisa a correr-lhe pelo corpo, já nada o fazia rir como no dia em que ele encontrou a lindíssima sereia pela primeira vez.

Inês Lomba (E.B. de Vila Praia de Âncora) [criação original a partir das Lendas do Mar, de José Jorge Letria]

Sem comentários:

Enviar um comentário