Palavras com Sabor

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um barquinho [da Camila]

 O barquinho continuou a navegar pelo mar fora. Sentia-se mal por estar sozinho, mas também contente por ter sido o único dos barquinhos a ter sobrevivido. Pensava em tantas coisas ao mesmo tempo que parecia que a sua cabeça ia rebentar. Pensava nos amigos, no que lhe estava a acontecer e no que o dono podia estar a fazer.
Navegou, navegou, até que avistou um submarino. Entrou nele, pois estava ligado, e foi até ao fundo do mar. Enquanto tentava descobrir como se controlava o submarino avistou uma gruta.
Foi em direção a ela. Entrou, receoso, e parou para espreitar. Na gruta não via ninguém. Avançou, cautelosamente… O ouro e as joias saltavam-lhe aos olhos por serem tão brilhantes. No fundo da gruta notou que existiam uns pozinhos brilhantes que lhe pareciam pontas muito afiadas.
Curioso, aproximou-se mais um bocado. Vislumbrou uma luz pequena e radiosa. A sua curiosidade foi aumentando e Neblina Branca aproximou-se do local que pretendia, reparando que era um Xarroco.
Com medo, interrogou-se:
– Será que morri e agora estou a so-so-sonhar? Ou será realidade?
De repente o Xarroco acorda e pergunta:
– O que estás aqui a fazer?
– Eu-eu? Na-na-da! Por-por-por-quê?
– Porque ninguém entra aquiiiii! – respondeu o Xarroco ao Neblina Branca, enquanto nadava atrás dele.
Neblina Branca tentou fugir o mais rápido que podia, mas não conseguiu. O Xarroco apanhou-o.
– Ah! Ah! Ah! – riu-se o Xarroco com uma sonora gargalhada. – Já te apanhei! Não consegues fugir!
– Por favor! Não me comas! – implorou o barquinho enquanto perdia os sentidos.
Neblina Branca ficou assim durante algum tempo. Quanto ao certo, nunca soube. A determinada altura, começou a ouvir uma voz fininha, que parecia estar muito distante.
– Barco! Barco! – gritava um peixinho ao Neblina Branca.
– Onde é que eu estou? Quem és tu? – perguntou o barquinho, todo baralhado, enquanto ia recuperando lentamente a consciência.
– Eu sou a Nicoleta!
– És muito bonita! –balbuciou o Neblina Branca ao ver Nicoleta.
Nicoleta era um peixe fêmea. Tinha o corpo azul-marinho e as suas guelras eram roxas e brilhantes.
– Tu deves ser a “peixinha” mais bonita e simpática que eu já vi!
– Eu não me quero gabar, mas na minha zona chamam-me “Miss Simpatia” e “Miss Solidária”!
– Onde é que eu estou? – insistiu o peixinho.
– Estás no Canadá!
– Mas como é que eu vim cá parar?
– Não sei! Eu vi-te a navegar e achei estranho, por isso vim até aqui. Tentei acordar-te, mas não consegui. Depois fiz-te respiração boca-a-boca e acordaste.
– Ainda bem que viemos para este país! – exclamou o “Neblina Branca”. – Vamos para Toronto.
– Ok! Eu gosto de falar inglês, por isso vamos!
Chegaram a Toronto e vislumbraram um lago. Foram até lá e repararam que iam fazer uma regata.
A Nicoleta, muito entusiasmada, exclamou:
– Vamos participar!
– É claro! Quem é que perdia uma coisa tão fixe?
Então eles os dois seguiram os outros barcos. Passaram pelo Starbucks, onde beberam um chocolate quente, e por um canil, até que foram parar ao mar.
Chegaram ao alto mar, mas viram um remoinho.
– O que é aquilo? – assustou-se o “Neblina Branca”.
– Não sei!
Subitamente, o Neblina Branca foi sugado para o remoinho.
– Socorro! – gritou o barco para a Nicoleta.
A Nicoleta foi socorrer o “Neblina Branca”. Puxou tanto, tanto, mas tanto, que conseguiu.
– Fogo! Já estava a ver a luz ao fundo do túnel! – gozou ele com o que tinha acabado de acontecer.
– Não sejas parvo! – repreendeu-o a Nicoleta por estar a gozar com aquela situação. –Podias ter naufragado!
– Ainda bem que nos safámos desta!
Enquanto “Neblina Branca” dizia isto, avistaram um barco grande a virar-se sobre eles.
– Mas o que é aquilo?
– Parece-me o Titanic! – gritou “Neblina Branca”.
O barco virou por cima deles e o barquinho naufragou e desfez-se. Nicoleta morreu com um ataque do coração, por causa do susto.
A partir desse dia, nenhum barquinho nem nenhum peixinho voltaram a navegar até à Gronelândia.

Camila Neto, 5.º A (E.B. de Vila Praia de Âncora) [criação original a partir da leitura de um excerto da obra A máquina de fazer palavras, de José Vaz]

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